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| Release |
| Como um autor que escrevesse seu novo romance em um auditório, lendo em voz alta para a audiência enquanto escrevesse e reescrevesse cada novo parágrafo, de maio à dezembro de 2013 o Clube do Balanço compôs seu novo álbum "Menina da Janela" em frente a uma audiência. Em ensaios abertos, realizados todas as terças-feiras a noite no Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena, o Clube montava seus instrumentos no chão do teatro, deixando o espaço do palco para os dançarinos de samba-rock que inevitavelmente os acompanham onde quer que toquem. Isso diz muito sobre a banda: que ela deixa o palco para o público. "Menina da Janela" se formou como um disco balançado até por pressão dos bailarinos, que aguardavam pacientemente as intermináveis passagens dos mesmos trechos até que os arranjos ganhassem corpo e eles pudessem recomeçar seus rodopios e nós, típicos desse estilo de dança. É fato notório que Romários não gostam de treinar. Como qualquer agremiação composta só de músicos altamente qualificados, como é o caso do Clube do Balanço, ensaios são sempre um desafio logístico. Os ensaios abertos surgiram justamente da necessidade de motivar os craques ao treino: Para garantir a presença de todos, um amigo gaucho foi escalado para fazer churrasco em todo ensaio. Para capturar esta atmosfera única em disco, o Clube do Balanço convocou a produção de Jesus Sanchez (produtor e baixista conhecido no underground pelos trabalhos com Los Pirata, Pélico, Bárbara Eugenia). Como Jesus é vida e salvação, o produtor insistiu em capturar o espírito das benditas apresentações ao vivo da banda gravando quase todos os instrumentos juntos ao mesmo tempo, com o mínimo de overdubs possível, técnica utilizada por vários artistas dos anos 70, como Roling Stones e The Meters. Isso resultou numa sonoridade mais viva, fiel aos famosos bailes do Clube do Balanço. Uma análise das faixas nos leva em um maravilhoso passeio por referências tão necessárias quanto ausentes do cenário musical atual. Seja na perfeita "Baby não mora mais lá" com ecos de Barney Kessel, e Roberto e Erasmo, ou as trilhas dos filmes de Fellini e Nino Rota em "La Nave Va". Apresenta uma nova força, repleta de intuição e musicalidade nas composições do baixista Gringo Pirrongeli e Tereza Gama, "Te dou bola" e "De Chinelo". O pop e o rock também se apresentam no salão de referências da banda. "Menina da Janela" a canção homônima ao álbum junta mais uma vez o principal compositor da banda, o vocalista e guitarrista Marco Mattoli com o guitarreiro Luiz Wagner num hit pronto que injeta psicodelia e até alguns pelos da barba de Raul Seixas na receita do samba-rock. "Vício perfeito" a faixa mais soul do álbum revela pitadas de Hyldon e do soul samba de Bebeto. O Rio de janeiro e o samba comparecem na participação de Nei Lopes como compositor, junto com Mattoli e Magnú Sousa em "Time Contra", que revela o cantor Mattoli cada vez mais em controle de sua performance. "Nó", de Mattoli e Roberta Gomes remete ao samba jazz de Som 3 e Wilson Simonal, numa viagem que remete ao tradicional Beco da Garrafas. Já "Dolores Gabriela" mostra o Clube do Balanço consolidado seu estilo único de samba rock celebrado em seus três álbuns anteriores. Pra fechar, o empolgante instrumental "Don Bocato", homenagem à personalidade colorida do trombonista Bocato, remete tanto à surf music quanto aos temas de séries de espionagem bem humoradas como o tema do "Agente 86"ou "A Pantera Cor de Rosa". "Menina da janela" consagra o Clube do Balanço e sua trajetória de 15 anos animando os salões de dança do Brasil e do mundo. Considerada a longevidade da banda, que já supera a da fase original do samba rock, o Clube do Balanço mostra com este disco que a boa música popular cresce, contribui e evolui junto com a cultura brasileira, atacada pelo vazio de modismos, consumismo e ostentação. |
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Por Artista
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